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Distorção entre idade e série cursada por estudantes brasileiros preocupa governo e especialistas

Os alunos brasileiros levam em média dez anos para completar com sucesso sete séries. Muitos não conseguem concluir nem mesmo as oito séries do ensino fundamental, que em 2010 passará a ter obrigatoriamente nove anos. Os problemas que essa distorção traz para o sistema público e para a própria formação dos alunos são um dos temas a serem enfrentados pelo novo Plano de Desenvolvimento da Educação, que o governo federal pretende lançar nas próximas semanas.

O dado sobre o atraso do aluno brasileiro médio está no estudo Situação Educacional dos Jovens Brasileiros na Faixa Etária de 15 a 17 anos, elaborado pelo pesquisador do Instituto Nacional e Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) Carlos Eduardo Moreno Sampaio.

O estudo foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2005, do do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE). “Com as taxas de promoção ainda longe do ideal e taxas de repetência e evasão estagnadas em patamares bastante elevados, o quadro atual é caracterizado pelo inchaço do sistema e pelas baixas taxas de conclusão do ensino fundamental”, aponta Moreno, no estudo.

O pesquisador também destaca que “um número expressivo daqueles que concluem o ensino esse nível de ensino [fundamental] o faz em idade superior à considerada adequada e nem sempre ingressam no ensino médio”.

Segundo a pesquisa Ensino Fundamental: Fim de um Ciclo Expansionista, da professora da Universidade Estadual do Ceará Sofia Lerche, a taxa de distorção idade-série no ensino fundamental era de 24,66%. Isso significa que praticamente um a cada quatro alunos do ensino fundamental tem idade superior à adequada para a série que freqüenta. Nas regiões Nordeste e Norte, o problema é maior: praticamente metade dos alunos do ensino fundamental está atrasada.

De acordo com a professora, a pesquisa traz dados referentes à Pnad de 2005. O levantamento também aponta que, entre 1999 e 2004, os índices de atraso escolar no ensino fundamental tiveram uma queda de 31,8%. Apesar da redução, a atual situação escolar das crianças brasileiras ainda é preocupante, na avaliação da pesquisadora.

“Esses números de distorção idade-série são muito expressivos de que elas estão ficando para trás dentro da escola”, salienta. “Esse é um problema de eficiência interna do sistema, é preciso que se tenham políticas para que os alunos aprendam na idade certa. Aprender na idade certa é um elemento fundamental para que a gente tenha políticas maisconseqüentes no ensino fundamental e nas outras etapas da educação básica”, acrescenta.

O diretor–executivo da organização Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, lembra que o atraso acumulado no ensino fundamental tem reflexos negativos na etapa seguinte. Para Ramos, o problema da baixa aprendizagem tem que ser combatido desde cedo, para que o aluno chegue mais bem preparado no ensino médio. “Muitas vezes a gente faz teste com criança de 10, 11 anos e em geral nem sequer está alfabetizada, porque não foi alfabetizada corretamente”.

No entendimento do diretor, a superação desse quadro requer, em primeiro lugar, a universalização da pré-escola. “Em segundo lugar, é preciso fazer processos de supervisão e universalização para garantir que toda criança esteja alfabetizada pelo menos até os oito anos. O ideal seria até os seis, mas, como a gente está trocando o pneu do carro emmovimento, vamos colocar oito anos e, em terceiro lugar, fazer com que de fato a criança, sendo alfabetizada, ela aprenda os conhecimentos necessários para cada uma de suas séries ao longo do ensino fundamental”, defende.

A diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental do Ministério da Educação (MEC), Jeanete Beauchamp, reconhece o problema do atraso escolar entre os alunos de 1ª a 8ª séries. Ela destaca que o governo trabalha não apenas para expandir o acesso ao ensino fundamental, mas também para garantir a qualidade.

“É preciso somar fatores para a gente superar esses índices. Evidentemente que passa pela formação de professores, pela permanência do aluno, pelo fornecimento de material pedagógico também, tanto para os professores como para os alunos, e são evidentemente projetos que o ministério já vem desenvolvendo”.

Em sua versão preliminar, apresentada em março, o Plano de Desenvolvimento da Educação já propõe medidas que podem ajudar a diminuir a defasagem entre idade e série no ensino fundamental. Uma das propostas é a realização do Provinha Brasil, um exame para avaliar a qualidade da alfabetização de crianças de seis a oito anos das escolas públicas.