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Operação migratória em fábrica da Hyundai-LG nos EUA gera tensão diplomática com a Coreia do Sul

A prisão de 475 cidadãos sul-coreanos em um canteiro de obras da Hyundai e da LG, no estado da Geórgia (EUA), reacendeu debates sobre direito internacional, proteção dos direitos humanos de trabalhadores migrantes e a coerência da política de imigração norte-americana.

A operação foi conduzida por autoridades de imigração dos Estados Unidos, que alegaram que os detidos estavam em situação irregular ou atuando em desacordo com os vistos que possuíam. Segundo informações preliminares, parte dos trabalhadores havia entrado com visto de negócios ou pelo programa de isenção de vistos, mas acabou exercendo atividades laborais, o que caracteriza violação das regras migratórias americanas.

O episódio ocorre em momento delicado das relações bilaterais. De um lado, o governo norte-americano vem estimulando empresas sul-coreanas a realizar investimentos bilionários em solo americano, especialmente no setor de semicondutores e baterias elétricas. De outro, a administração Trump tem endurecido políticas de imigração e reduzido concessões de vistos, criando obstáculos para o deslocamento de técnicos e especialistas essenciais à construção dessas fábricas.

A chancelaria sul-coreana emitiu nota expressando “preocupação e pesar” pelo ocorrido, ressaltando que os direitos de seus cidadãos e os interesses de empresas investidoras devem ser respeitados durante procedimentos de fiscalização. Diplomatas foram enviados ao local para acompanhar a situação e prestar assistência consular.

Sob a ótica jurídica, especialistas apontam para uma zona cinzenta entre a soberania estatal para controlar fronteiras e obrigações internacionais de respeito aos direitos humanos e trabalhistas. Embora os EUA tenham competência para aplicar sua legislação migratória, medidas que resultam em detenções em massa de estrangeiros ligados a projetos estratégicos podem ser interpretadas como desproporcionais e até contraditórias com compromissos assumidos em acordos de comércio e cooperação internacional.

A repercussão na Coreia do Sul foi imediata. Jornais de grande circulação descreveram o episódio como um “choque diplomático” que pode “esfriar a confiança empresarial no mercado norte-americano”. Para Hyundai e LG, além dos impactos econômicos, há também a necessidade de auditar contratos com subcontratadas e revisar práticas de mobilidade de trabalhadores entre países, para evitar violações futuras.

A fábrica Hyundai-LG na Geórgia, prevista para iniciar operações em 2026, representa um investimento estratégico de mais de US$ 350 bilhões. Paradoxalmente, é justamente esse tipo de projeto que Washington tem buscado atrair para fortalecer cadeias de suprimentos críticas e reduzir dependências externas.

O caso coloca em evidência um dilema recorrente no direito internacional contemporâneo: como conciliar a proteção da soberania migratória de cada Estado com os direitos fundamentais de trabalhadores em mobilidade global — sobretudo em um cenário de integração econômica e de interdependência entre grandes potências industriais.

Fonte: Agências Internacionais

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