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Dignidade Humana: uma Critica ao filme Ilha das Flores

Vivemos em uma sociedade desigual, onde há uma grande diversidade de raças, condições sociais e humanas, entretanto existe um valor que todos deveriam possuir: a dignidade.

A sociedade brasileira nos séculos XVII e XVIII conheceu a exploração do trabalho escravo e indígena que na maioria das vezes eram submetidos a condições desumanas perdendo assim a dignidade, pois segundo Kant o ser humano não poderá jamais ser tratado como mero instrumento para realização dos fins alheios.A dignidade humana é um tema bastante debatido e nunca se pôde chegar a um consenso geral de seu conceito, uma vez que a sua universalização traria muitas disparidades, pois os critérios variam conforme o local e a época.Sabe-se que todos os seres humanos são iguais em dignidade, ou melhor, deveriam ser.

É necessário respeitar e promover a busca pela dignidade dos menos favorecidos, incapazes e inclusive dos perversos, pois estes, mesmo que infligindo regras morais ou jurídicas não devem perder as garantias fundamentais.

Desta maneira quem serão os responsáveis por promover os direitos a todos humanos? Seria papel da igreja, do Estado ou da sociedade? Ou de todos, formando um só corpo. Se cada um contribuísse respeitando o próximo, se todas as igrejas pudessem buscar a integração social de seus fieis e as que prometem salvar almas, propusessem a ajudar os irmãos que são imagem e semelhança e se o Estado garantisse efetivamente os direitos e garantias fundamentais, muitos sairiam da humilhação em que vivem.

Ainda hoje, em pleno século XXI somos sempre surpreendidos pela “monstruosidade” que o nosso país se tornou em termos de desigualdade, as quais não se separa somente entre ricos e pobres mas se desdobram em ricos, pobres e miseráveis.O diretor Jorge Furtado conseguiu no ano de 1989 mostrar brilhantemente tais desigualdades, no documentário; Ilha das flores, onde ele mostra a trajetória de um tomate, da plantação até ser jogado fora e neste percurso é possível perceber a geração de riquezas e as desigualdades que surgem, ficando clara a diferença entre tomates, porcos e seres humanos.Ilha das flores é um lugar em Porto Alegre onde é jogado o lixo de um milhão de seres humanos. Este lugar cheira mal e atrai várias doenças e é lá que o tomate rejeitado por famílias que dispõe de boas condições sócio econômicas é jogado. Um produtor de porcos compra um espaço na Ilha das flores onde cria seus porcos e onde os alimentos rejeitados são jogados e separados para a alimentação dos porcos e aquilo que não for considerado próprio para eles, será utilizado na alimentação de mulheres e crianças.

Este é o ponto máximo do curta, pois o que coloca seres humanos da ilha das flores depois dos porcos na escolha dos alimentos é a sua falta de dignidade, o que comove todos que o assistem. A falta de dinheiro e de mudanças por parte da sociedade e do Estado tira a dignidade de seres humanos que são expostos a doenças, pois na ilha das flores não há vigilância sanitária, passam fome e são de forma humilhante considerados menos dignos que porcos.O mais inacreditável é saber que o curta produzido há aproximadamente 18 anos, se encaixa perfeitamente na atual realidade social brasileira, pois, a dignidade humana é aqui esquecida e desrespeitada desde a colonização até hoje em que se diz existir uma verdadeira democracia.

É necessário emprego, alimentação e principalmente educação para que as crianças saiam das ruas e dos lixões e ocupem as salas de aula, uma vez que no Brasil a melhor e mais bem sucedida forma de mobilidade social é estudar, pois com os estudos a dignidade se torna respeitada e mais difícil de ser esquecida, é preciso prover o ser humano de direitos e deveres fundamentais que lhe assegure condições para a própria existência.O filme termina com a citação de um verso de Cecília Meirelles, muito bem escolhida:”liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. ”