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Mais um Fim Para o Iluminismo

Talvez um novo final para uma visão de mundo iluminada, o Iluminismo pode ter falhado em sua base, em sua sustentação, findando em potencializar problemas antigos e legitimar discursos vazios, os quais remontam a uma Era de dominação. A filosofia deve reavaliar suas bases teóricas e adaptar-se ao modernismo. O movimento conhecido como Ilustração – ocorrida no século XVIII – foi um marco fático, que tratou de mudar algumas bases sócias já estabelecidas historicamente. Além disso, no que concerne ao conhecimento vários filósofos elaboraram obras deverás significativas, tratando dos mais diversos temas, incluindo desde críticas às coroas à organização do conhecimento. A grande marca de tal conjuntura foi a de valores inalienáveis, com os quais o ser humano nasceria e não os perderia jamais. Liberdade, Igualdade, direito à vida e fraternidade, além de alcançar o direito à propriedade privada em grau extremamente elevado, sendo o mesmo conferido juridicamente. A Ilustração foi movimento essencialmente burguês, sendo esta a classe que ditou suas basilares montagens. O Iluminismo consagrou o cientificismo de Descartes, o conhecimento especializado e que foi, posteriormente, produtor de avanços inimagináveis. No entanto, esse movimento teve fim trágico, haja vista que o conhecimento não foi disseminado e sim compartimentalizado, distribuído de forma desigual e, às vezes, muito equivocadas. No período pós-Revolucionário o conhecimento continuou retiro aos detentores do ócio ou às camadas mais abastadas economicamente, óbvio. Não havendo, com isso, a ampliação dos horizontes e das potencialidades do desenvolvimento intelectual. Isso, porém, ainda hoje não acontece de forma efetiva, mesmo com a expansão tecnológica já patente. A “Internet” tratou de possibilitar acesso a acervos vultosos, os quais tratam dos assuntos mais plurais quanto é possível que seja concebido, tratou de igualar condições e conhecimento entre os diversos locais do planeta, tratou de incluir, digitalmente, os seres humanos da aldeia global. Frases como essas foram vistas e são vistas constantemente nos meios de divulgação, outrora chamado de 4º Poder. Aceitas no papel, tais termos não condizem com a realidade, visto que os meios de comunicação não cumpriram seu papel, criaram, em grande parte, forma de expor um conhecimento falho, desinteressado e descomprometido. A chance dos meios de comunicação de serem usados, como queria Benjamin, para a otimização cultural não aconteceu. Predomina, com efeito, a forma estudada por Hayek, com o conhecimento sendo distribuído desigualmente e, quando disseminado, o é de forma limitada. Discursos vazios, obras sintéticas e idéias errôneas, recorrentes são esses fatos nas correntes de conhecimento, a tecnologia fundada na razão findou numa lesão à própria razão. O conhecimento continua disperso e distribuído de forma não eqüitativa, ele é polarizado, e em o sendo, é restrito e pode ser usado de forma instrumental, conclui-se, portanto, que Adorno e Horkheimer estava com a razão em pensar que a razão está sendo usada como forma de manipulação. As conseqüências disso são melancólicas, o conhecimento não é propriedade dos cidadãos, estes, por sua vez, sem esclarecimentos, sem acesso à cultura clássica e ao conhecimento específico em algumas áreas, ficam à mercê de uma sociedade que cria laços de dependência social fortíssimos, com os quais se monta, entre outras coisas, a visão de que deve existir um poder centralizado que pode resolver todas as demandas existentes, uma espécie de apologia fanfarrona à George Orwell, com seu “Grande Irmão. A Subsidiaridade desaparece quase que por completo e a crença que há é falsa, com uma visão distorcida e uma séria de discursos com embasamento frágil e desinteressantes. A pergunta recorrente é: a filosofia irá cumprir seu papel e será combativa? A filosofia do Direito ainda pode, nessa conjuntura, lidar com as questões de Justiça e de Verdade? Observando-se a crescente propensão ao cientificismo existente do mundo legal, constata-se que a falta de comunicação entra algumas áreas do conhecimento e do conhecimento jurídico é profundamente lesiva, na medida em que facilita a profusão de conhecimento falho, desamparado em relação à realidade estabelecida, a qual demanda situações novas e maior agilidade conceitual e estrutural. O momento de trabalhar a filosofia de forma desarticulada passou, necessita-se, com isso, que hajam formas de acoplar as idéias e as formas do conhecimento, buscando, a priori, retomar a razão e usa-la de forma compromissada, obviamente, promovendo a estruturação integrada do conhecimento, da sabedoria, do saber, da razão, não fazendo com que hajam limitação nas distribuições, visto que inovações já condicionam grandes margens de melhora. A racionalidade, concomitantemente, dá bases mais sólidas e coerência ao sistema jurídico – compartimentalizando os diversos âmbitos do Direito – e afoga os princípios com a visão errônea da contribuição positivista. Condiciona, portanto, um uso distorcido do Iluminismo e de sua carga valorativa e intelectual, causando um fim constante para o ideário racional, o qual, a cada novo momento, parece tomar um rumo mais nefasto.