Numa reunião de acareação que durou sete horas, os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (sem partido-DF) e a ex-diretora do Prodasen Regina Célia Borges sustentaram ontem as versões que já haviam apresentado ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar sobre a violação do painel de votações secretas. O relator, Roberto Saturnino (PSB-RJ), anunciou que entregará seu parecer na próxima quinta-feira.
O presidente do conselho, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), afirmou que considerava as investigações encerradas e haverá no início da próxima semana uma reunião administrativa apenas para decidir sobre vários requerimentos não votados. Ele quis colocá-los em votação ontem, mas o senador Valdeck Ornélas (PFL-BA) discordou e pediu verificação de quorum – não havia parlamentares em número suficiente, já no encerramento da acareação.
Antonio Carlos voltou a garantir que não autorizou, “nem direta nem indiretamente”, Arruda a pedir a lista com os votos da sessão que cassou o senador Luiz Estevão. Arruda reafirmou que apenas consultou Regina sobre a possibilidade de se conhecerem os votos, autorizado por Antonio Carlos. Já Regina repetiu que recebeu “uma determinação” de Arruda para conseguir a lista “e ele dizia falar em nome de Antonio Carlos Magalhães”.
Transmitida ao vivo por emissoras de rádio e televisão, a reunião teve o seu momento mais tenso quando o senador Jefferson Péres (PDT-AM) tomou a palavra. “Vamos deixar de eufemismo. Se os dois senadores sustentam suas versões, um está mentindo”, assinalou. O relator disse “ser difícil” acreditar na versão de Arruda de que apenas solicitara a lista. Outra contradição se refere à declaração de Regina Borges de que telefonou para o celular de Arruda por volta das 10h do dia 28, quando teria lhe informado que a listagem iria ser retirada após a sessão de cassação, que terminou às 16h. O senador nega que o diálogo tenha ocorrido.
Antonio Carlos, que voltou a elogiar a competência da ex-diretora Regina Borges, assumiu a responsabilidade pela omissão de não ter adotado providências ao tomar conhecimento, por Arruda, da lista. “Agi assim para preservar o Senado e evitar qualquer risco de se anular a cassação de Luiz Estevão”, repetiu. Já Arruda, que admitiu ter levado a lista a Antonio Carlos e comentado com ele os votos que lá apareciam, pediu para ser julgado em função “da gravidade da irregularidade”. Ele observou que não roubou, não matou e nem corrompeu.
No final, Arruda leu uma mensagem eletrônica recebida dos advogados Valdir Campos Lima e Carlúcio Campos Coelho, de Brasília, na qual eles faziam sugestões sobre como agir no episódio, inclusive que ficasse do lado de Regina Borges, contasse a verdade e fizesse um acordo com o PFL para preservar Antonio Carlos. Dois dias depois, acrescentou, um de seus assessores foi conversar com os advogados e, para surpresa, estava no mesmo escritório um advogado, filho de Regina Borges. Regina informou que Carlúcio é amigo de sua família, mas que não se aconselhou com ele.