A temperatura do planeta está subindo, disso ninguém duvida. O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início de fevereiro em Paris (França), detectou um aumento de temperatura global entre dois e quatro graus e meio a mais do que os níveis registrados na era pré-industrial. As estimativas mais prováveis falam num aumento médio de três graus, o que ocorreria se os níveis de emissão de dióxido de carbono (CO²) se estabilizassem em 45% acima da taxa anual.
Também não há mais dúvida de que a ação do homem é a grande responsável pelo chamado aquecimento global. Atividades como pegar o ônibus ou tirar o carro da garagem, passar roupa e fazer o costumeiro arroz com feijão, consomem gasolina, energia elétrica e gás metano, que juntos lançam dióxido de carbono na atmosfera. Este, por sua vez, é um dos responsáveis pelo chamado efeito estufa, que impede que os raios solares deixem a atmosfera provocando o aquecimento da terra.
O climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre lembra que o relatório do IPCC divulgado no dia 2 de fevereiro deixou claro que, com 90% de probabilidade, o aquecimento dos últimos 50 anos se deve mesmo às atividades humanas.
“É lógico que quase todas as emissões são feitas no nosso modelo moderno de produção e uso de energia, indústria e agricultura, que é efetivamente para produzir os bens que a sociedade moderna consome. Então na raiz, o que motiva essa grande emissão é atender às necessidades humanas”, destaca o pesquisador do Inpe.
Segundo o diretor da organização não-governamental Iniciativa Verde, Osvaldo Martins, o padrão de consumo do ser humano está diretamente relacionado com a quantidade de gases emitidos no meio ambiente. “O setor residencial é um grande emissor de gases do efeito estufa e 30% de todas as emissões desses gases são referentes a transportes. Ao nos locomovermos de um lugar para o outro, também existe um pacote grande de emissões”, explica.
Martins lembra que apesar de as indústrias serem o setor da economia que mais polui, os bens de consumo que ela produz são demandas da sociedade. “A gente não pode esquecer que as indústrias, tanto a indústria de bens de consumo quanto a indústria energética, produzem para nós. Então, indiretamente, [o aquecimento também] é de responsabilidade do cidadão”.