Em 20 dias, quadruplicou o número de haitianos que atravessaram ilegalmente a fronteira entre a Bolívia e o Brasil pelo Acre. Eles aguardam em Brasileia autorização do governo federal para que possam se estabelecer permanentemente no país em busca de emprego.
No dia 19 de agosto, a reportagem da Agência Brasil esteve na cidade acriana, onde visitou o casarão de cinco cômodos onde 35 haitianos foram abrigados. Hoje (10), o representante do governo do Acre na cidade, Damião Borges, informou que 182 já recebem assistência humanitária. Eles recebem três refeições e 7 mil litros de água potável por dia.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados na semana passada, quando afastou a possibilidade de o governo ampliar o número de vistos concedidos aos haitianos. Com isso, o governo brasileiro pretende coibir a ação do crime organizado que, segundo ele, tira proveito dessas migrações.
O secretário de Justiça do Acre, Nilson Mourão, disse que já comunicou o problema às autoridades do Ministério da Justiça. “Aguardo agora um comunicado deles [governo federal]. Se forem enviar essas pessoas de volta ao Haiti, o problema é deles mas, da nossa parte [governo do Acre], continuaremos dando suporte humanitário”.
Damião Borges, por sua vez, disse que não há como impedir a entrada dessas pessoas em Brasileia dada a grande extensão de fronteira e ao pouco policiamento. Os 96 haitianos que estavam em situação precária em Iñapari, no Peru, foram todos para Brasileia.
Por outro lado, os coiotes – pessoas que oferecem pacotes de viagem para a entrada ilegal no país – continuam a utilizar a rota pela cidade boliviana de Ibéria, onde caminham 8 quilômetros pela mata amazônica até a estrada para Cobija. Quando chegam à cidade, na divisa com Brasileia, ou atravessam as duas pontes que separam a Bolívia do Brasil ou atravessam o Rio Acre.
O representante do governo do Acre em Brasileia disse ainda que o governo peruano decidiu fortalecer o policiamento de fronteira e expulsar os haitianos que já estavam no país. “Ao que me consta, eles também vão aumentar a fiscalização na fronteira com o Equador [país fundamental nas rotas dos coiotes, no processo migratório do Haiti para o Brasil]”.