O sistema de cotas raciais ajuda a construir “verdadeiramente” a integração do povo brasileiro. A avaliação é do diretor-executivo do Centro de Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes (Educafro), frei David, que concedeu entrevista hoje (28) ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.
Ele garante que os cotistas negros têm registrado nota acadêmica 70% superior à registrada por alunos de classe média e provenientes de escolas particulares, possivelmente, com acesso a cursinhos pré-vestibulares. “Está sendo provado que o Brasil jogou no lixo talentos, apenas porque a pessoa era pobre, negra ou índia.”
Líderes partidários da Câmara dos Deputados estão reunidos com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para discutir propostas sobre a reserva de vagas em universidades federais. O projeto mais polêmico – nº 3627/04, do Executivo – reserva vagas para estudantes que se declararem negros ou índios e que tenham cursado o nível médio, integralmente, em escolas públicas.
O frei se diz contrário à substituição de cotas raciais por cotas sociais – baseadas no fator econômico e destinadas a pessoas consideradas pobres. Segundo ele, o ideal seria a articulação entre as duas propostas.
“Se você vai em uma favela e lá encontra um branco pobre, vê que ele é menos discriminado que o negro pobre. A cota racial não está preocupada só com o fato de o negro ser pobre, mas com um Brasil que explorou o povo negro por 350 anos como escravo e, em seguida, não compensou esse povo em nada.”
Quando questionado sobre a falta de consenso entre a população e dentro do próprio governo acerca do sistema de cotas raciais, frei David acredita que “a classe dominante tem atrapalhado as poucas vitórias do povo negro.”
Ele critica a atual estrutura das universidades públicas e classifica de “cruel” a sistemática de seleção de alunos. Segundo ele, as universidades realizam provas de vestibular baseadas no ensino da rede particular e desprezam o que é ensinado na rede pública. “Isso é um atentado à Constituição.”