A Operação Navalha, deflagrada na última semana, deu continuidade a uma série de ações que a Polícia Federal vem realizando para combater quadrilhas que lesam os cofres públicos, num ritmo crescente.
Desde 2003, a PF prendeu cerca de mil servidores e ex-servidores públicos suspeitos de corrupção: parlamentares, magistrados, procuradores e funcionários do Executivo federal, estadual e municipal, incluindo prefeitos e governadores, entre outros. Ao todo, 350 operações resultaram na prisão de mais 5 mil pessoas, segundo dados da PF.
No período em questão, 2006 foi o ano com o maior número de operações: 167, que levaram cerca de 2,5 mil pessoas para a cadeia – mais de dez vezes mais que em 2003, quando 223 suspeitos foram detidos em 16 ações. Nos quase cinco meses de 2007, já houve 61 operações e cerca de 880 prisões (incluindo a Navalha).
A quantidade de prisões, de acordo com o secretário executivo da Controladoria Geral da União (CGU), Luiz Navarro, deve aumentar porque o ritmo das operações vem crescendo. Além disso, ele avalia que a PF, ao longo dos anos, tornou-se mais organizada. Deixou de fazer operações pontuais “para prender apenas um bandido” e voltou-se a atividades estratégicas, com foco no “desbaratamento de quadrilhas que atuam no país há muito tempo, com práticas antigas de corrupção”.
“Sabemos que no primeiro momento, fica para a população uma impressão de que a corrupção é grande e está aumentando”, comenta Navarro. “Mas precismos combatê-la, pois este mal não acaba de uma só vez, com um tiro”.
Além da Operação Navalha, aquelas que mais prenderam servidores de alto escalão e obtiveram maior repercussão foram: Furacão, Vampiro, Anaconda, Sanguessuga e Dominó. Saiba mais sobre elas, com base em informações da PF e outras publicas anteriormente pela Agência Brasil.
Anaconda: realizada em outubro de 2003, tinha o objetivo de desarticular uma quadrilha que cometia corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e utilização de cargos públicos em benefício próprio, entre outras irregularidades. Foram presos delegados da PF, a esposa de um juiz federal e empresários. Entre os denunciados, estavam os juízes federais João Carlos da Rocha Matos e Casem Mazloum.
Vampiro: em 2004, a Polícia Federal investigou a compra superfaturada de medicamentos para coagulação do sangue, os hemoderivados. Cerca de 30 pessoas foram indiciadas e 27, presas. Entre os suspeitos, estavam o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa – na ocasião, Costa já não comandava mais o ministério.
Sanguessuga: realizada para combater crimes contra a ordem tributária e fraudes em licitações na área da saúde, principalmente na compra de ambulância. Funcionários do Ministério da Saúde e da Câmara dos Deputados integravam a quadrilha investigada pela PF, que prendeu 48 pessoas em maio de 2006. Cerca de 80 senadores e deputados foram investigados – em virtude de emendas ao Orçamento para a compra superfaturada de ambulâncias da empresa Planam, dos empresários Luiz Antonio e Darci Vedoin.
Dominó: também realizada em 2006, desarticulou uma quadrilha que atuava em Rondônia e desviou cerca de R$ 70 milhões no pagamento de serviços, compras e obras superfaturadas. Entre os acusados, havia deputados estaduais, funcionários da Assembléia Legislativa do estado, procuradores e juízes. O grupo também foi acusado de exercer influência indevida e promíscua sobre agentes do Poder Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e do Poder Executivo do Estado.
Furacão: deflagrada neste ano, com foco na exploração ilegal de jogos e venda de sentenças judiciais. A quadrilha desbaratada era composta por empresários, policiais civis e federais, juízes, procuradores e desembargadores. Entre os crimes, lavagem de dinheiro e fraudes contra a administração pública. O ministro do Supremo Tribunal Fedral Paulo Medina, atualmente afastado, foi um dos citados pela PF. Na ocasião, 25 pessoas foram presas.