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Réquiem para um sonho

Mais uma vez venho, por meio deste espaço, externar meu senso crítico amador que gira, paralelamente, com o constante movimento cíclico da vida. E por falar em ciclo de vida, minha alfinetada da hora, diz respeito ao que costumamos chamar de Terceira Idade. Como tudo no Brasil, não é de hoje que este tema vem sendo debatido por uma elite realmente intelectualizada e engajada em uma melhoria social. O grande desafio desta elite é retirar estas discussões do mundo marginalizado dos grandes intelectuais e transformar estas idéias (e/ou leis que regulamentam o direito dos idosos) em algo verdadeiramente palpável e funcional. É fato que, somente ao ganhar repercussão nacional, ou seja, cair no entendimento popular, ocorre a disseminação destes temas e passamos a buscar um mais conhecimento aprofundado do assunto. Atrocidades eram / são / e continuarão sendo feitas contra os nossos “velhos” se nada for feito. É necessário que nossas autoridades realmente façam vigorar o Estatuto do Idoso. Nossa sociedade como um todo deve iniciar um processo de reestruturação para que os idosos sejam acolhidos de forma digna e satisfatória e, o mais importante, devemos entender que a vida é um ciclo e que os jovens de hoje serão os velhos de amanhã e que se quisermos obter uma velhice bem-sucedida, feliz e saudável, é preciso, urgentemente, alterar os vários padrões já enraizados em nossa sociedade. Aqui podemos citar um trecho de um poema escrito por uma adolescente, na época, com 14 anos, sobre a velhice que um dia tornar-se-á própria: Hoje lembro do passado / Com orgulho de quem fui / Lembro os sonhos que já tive / E como o tempo se dilui / Ainda me lembro quem sou / E de onde vem meu afeto / Quando lembro que estou viva / Na eterna luta pelo que quero. (Natália Morais). Não sei se todos compreenderam o que esta jovem quis dizer, contudo, se esta garota conseguiu absorver toda a essência do processo de envelhecimento, por quê nossa sociedade insiste em ficar prostrada num passado de preconceitos? Devemos criar condições para que nossos idosos possam se sentir, como disse esta adolescente, VIVOS. Não precisamos criar projetos mirabolantes ou condições que fogem da real necessidade de um idoso em nosso país. Conhecemos nossas limitações. Sabemos que nosso país não possui uma estrutura básica pré-moldada para solucionar os problemas sociais relacionados à fome, miséria, educação e saúde, sem contar com os amplos problemas encontrados em nossa economia e política. Entretanto, o que se deve analisar é que estas pessoas envelheceram tentando, na medida do possível, ajudar na formação, crescimento e desenvolvimento deste país e, no momento em que precisam ser auxiliadas, a ingratidão é o sentimento mais presente.

Nossos “velhos” são marginalizados em asilos precários. Abandonados pelos filhos por quem tanto lutaram, sozinhos em uma solidão eterna, sem condições de se sentirem úteis. Será que é assim que queremos que nossos idosos sobrevivam? É assim que queremos ficar? Nossos idosos precisam somente de carinho e condições mínimas de dignidade e respeito. Todas as pessoas sanas são unânimes em afirmar que, mais que longevidade garantida, é preciso ter dignidade para melhor vivê-la.

A cidade de Uberlândia deve se orgulhar por possuir vários programas sociais de auxílio ao idoso. Alguns desses programas são referências nacionais. Um desses é o AFRID que, mesmo enfrentando diversas dificuldades, em toda a extensão do termo, pode se orgulhar de ser um projeto inovador que oferece aos idosos uberlandenses uma alternativa ou, pelo menos, uma tentativa para uma velhice bem-sucedida.

Assim, parafraseando o magistral discurso de nosso poeta Mário Quintana, podemos dizer que “envelhecer é ótimo, porque a outra opção é pior”.