Começo a acreditar que a democratização do ensino superior incomoda a muita gente. Inúmeras pesquisas sérias e de origem fidedigna apontam que os alunos de melhores escolas (e, especialmente, de escolas caras) acabam conseguindo estudar nas universidades públicas e, estas, por sua vez, passam (sejam do âmbito federal ou estadual) por horrendas agruras e, ainda, padecem com uma subestrutura namibiana, amargando falta de professores, prolongadas greves e tantos outros desvãos que mais atrapalham do que ajudam aos estudantes e aos futuros profissionais.
Em outras palavras, as universidades públicas recebem os melhores alunos e os transformam em apenas bons (vide os resultados da UFF na OAB em agosto de 2002, também, da UNIRIO e da UFRJ no “provão” do MEC no mesmo ano).
Mesmo assim, novamente pesquisas revelam que o nível sócio-econômico dos alunos das universidades públicas é bem mais elevado do que das instituições privadas. O que nos faz constatar que o ensino superior gratuito não é devotado aos pobres e, sim, a uma elite composta em sua maioria de alunos dotados de conceitos A e B.
Não raro nos deparamos nos estacionamentos das faculdades públicas e mesmo nas vestes dos alunos com uma agressiva ostentação do alto poder aquisitivo do corpo discente. Tudo isso seria muito engraçado e irônico senão fosse antes trágico e cruel. Tanto assim que algumas universidades públicas começaram a adotar o sistema de quotas sociais (para negros, para oriundos do ensino público etc.), numa tentativa vã de aplacar o abismo das diferenças.
Já as universidades particulares recebem alunos vítimas do sistema educacional público brasileiro e tornando-os aptos para o mercado do trabalho, passíveis de ascensão social, política, ideológica e, sobretudo, cultural, garimpando e educando cada vez mais em direção à conscientização e à cidadania. Ao que, aliás, inicialmente, o novo ministro da Educação, Tarso Genro, desavisadamente, alegou ser contrário, mas, depois, temendo cair em desgraça com a minoria e mais afinado com élan populista em voga, voltou atrás.
Os professores que lecionam na rede pública de ensino superior são, muitas vezes, os mesmos que atuam na rede privada de ensino, contando com plus generoso de utilizar uma boa ou excelente infraestrutura e, ainda, de um cuidadoso projeto pedagógico.
Recentemente, a OAB federal, num ato de jactância subjetiva e crueldade, elaborou a chamada “lista negra” do ensino jurídico, tecendo nomeadamente as universidades não recomendadas. Um verdadeiro e injusto index.
Indignada, constatei que este rol incluía a Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro e várias de suas unidades, como a de Resende (que efetivamente obteve o conceito A por duas vezes sucessivas no “provão” do MEC) e, ainda, atingiu quase 100 porcento de aprovação no exame da OAB. Outro campus injustiçado foi o de Niterói, que, apesar de possuir cerca de 5.000 alunos, obteve conceito B. E mesmo a Estácio do Rio de Janeiro, região metropolitana, galgou conceito C com a diferença ínfima de 1,5 do conceito “B”. Além disso, a Estácio possui uma elevada média de aprovação no Exame da OAB.
Estas observações nos fazem firmemente crer na ausência de critérios na recomendação da OAB ou, pelo menos, na não seriedade dos mesmos. Isso sem comentar a existência de outras instituições de ensino que não obtiveram bom desempenho junto ao MEC e nem no exame da ordem e, estranhamente, constam como recomendadas.
Infelizmente, observamos que se trata mesmo de uma opinião política e subjetiva, que só vem aviltar os esforços das universidades privadas, notadamente a Estácio que, mormente no RJ, é uma das poucas que pagam religiosamente em dia tanto seus funcionários como professores, além de investir fortemente em seu aprimoramento profissional, ministrando oficinas e seminários.
Estou no rol dos professores e acadêmicos que foram ofendidos por tal notícia, que parece não levar em consideração a contribuição para a cidadania brasileira que as universidades particulares estão produzindo, não só elevando o nível de conhecimento e educação como, também, permitindo acesso social às camadas expurgadas pelos processos seletivos, que não avaliam seriamente todo o torvelinho pelo qual passa o ensino público do país.
Basta de conferir à educação brasileira um tratamento de segunda ou terceira classe; basta de meros interesses políticos e demagógicos prevalecendo sobre a importância da cidadania brasileira. Basta!
Sábias palavras foram ditas por San Tiago Dantas: “no Brasil, o povo como povo é melhor que a elite como elite”. O que significa que o povo cumpre melhor o seu papel de povo do que a elite o seu papel de elite. É uma dolorosa verdade.