Alguns economistas acreditam que as medidas adotadas ontem (8) pelo Banco Central (BC) com o objetivo de frear a valorização do real, terá efeito momentâneo nos movimentos especulativos de compra e venda de dólares, mas não aumentará o valor do dólar. O BC publicou três circulares que restringem à atuação dos bancos nas operações com moeda estrangeira, com o objetivo de reduzir a pressão sobre o câmbio.
“São paliativos que chegam tardiamente”, comentou o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Décio Munhoz. “É como você querer curar com um AAS uma doença que já se agravou. O governo deixou, por omissão, chegar num ponto que não poderia jamais”. Para Munhoz, as circulares têm o mérito de restringirem o poder de pressão dos “especuladores” sobre a taxa de câmbio. O professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo, também considera a medida boa, mas insuficiente.
“Com as medidas, o governo está tornando os bancos agentes menores no mercado de câmbio. Ou seja, o impacto dessas operações meramente especulativas feitas pelos bancos, será reduzido”, avalia Munhoz. Ele comenta que quando o banco age como especulador não compra dólar porque um cliente vai importar e precisa da moeda estrangeira e também não vende dólar porque um dos seus clientes exportou. “Ele (o banco) está fazendo mera arbitragem. E com isso, eles conseguem influenciar a taxa de câmbio, ou comprando ou vendendo dólar. As medidas do governo tornam esses agentes menos importantes”.
Entretanto, Munhoz está entre aqueles que defendem que o governo regulamente a entrada de capitais de curto prazo e volte a taxa o capital estrangeiro com o imposto de renda. “Como entender esses estímulos para ingressos de dólares, se tem dólar sobrando no país?”.
Munhoz acha muito difícil que o governo consiga conter a valorização do real sem uma intervenção mais incisiva. “O governo foi muito omisso durante todo esse período de desvalorização. Demoramos tanto que temo que possivelmente tenhamos de trabalhar com o câmbio administrado, como fizemos no passado”. Hoje, o regime de câmbio no Brasil é flutuante, ou seja, varia de acordo com os movimentos de mercado.