O Congresso Nacional vai instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os negócios do contraventor Carlos Cachoeira que, segundo investigação da Polícia Federal, explora jogos ilegais e construiu uma rede de tráfico de influência que cooptou parlamentares, policiais e outros agentes públicos.
O acordo para realizar uma investigação conjunta de deputados e senadores foi selado nesta terça-feira em encontro entre os presidentes da Câmara, Marco Maia, e do Senado, José Sarney.
A pressão por uma CPI mista aumentou nesta terça-feira depois das declarações do líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), de que iria colher entre os senadores assinaturas para uma CPI. A Câmara já tem um requerimento de CPI, de autoria do deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP), apenas aguardando a leitura e instalação do colegiado.
Na avaliação do presidente Marco Maia, é mais eficiente uma investigação conjunta do que uma CPI em cada Casa. “Não há porque haver uma CPI na Câmara e outra no Senado se é perfeitamente possível a construção de uma CPMI que cumpra todas as tarefas e todas as responsabilidades de investigação desse caso”, disse Marco Maia.
Segundo ele, a intenção é que a CPMI seja constituída nesta semana. “Como há entendimento entre os presidentes das duas Casas e os líderes, não teremos problemas nos procedimentos legais para essa CPI”. Serão necessárias as assinaturas de 27 senadores e 171 deputados para a instalação da CPMI, cujo requerimento ainda será elaborado em conjunto com os líderes do Senado e da Câmara.
Maia adiantou que vai defender a prioridade, na composição da CPMI, a parlamentares que não sejam candidatos, para evitar que os trabalhos sejam comprometidos pelo calendário eleitoral e para permitir uma “investigação ampla”.
Oposição Os líderes dos partidos mais afetados pelas denúncias veiculadas, DEM, PPS e PSDB, também defenderam a investigação por uma CPMI. As denúncias publicadas sobre os negócios do contraventor Carlos Cachoeira já comprometeram os deputados Stepan Nercessian (PPS-RJ), Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que se desfiliou do DEM para evitar a expulsão do partido, e até mesmo a chefe de gabinete do governador goiano, Marconi Perillo (PSDB).
O líder do PSDB, deputado Bruno Araújo (PE), disse que a divulgação das denúncias tem sido “seletiva” e reafirmou a inocência de Perillo. “O PSDB entende que o governador de Goiás não é investigado. O relatório que foi vazado não imputa qualquer fato ilícito ao governador. Defendemos a CPI exatamente para que se esclareçam as informações que vazam de forma seletiva, quando se sabe que a rede é abrangente”, disse.
Para o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), a CPI Mista é “o caminho mais racional”. Já o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), propõe que as investigações “esmiúcem a participação da rede de Cachoeira nos governos federal, estadual e municipal; no mundo empresarial; e no financiamento ilegal de campanhas”.
Deputados investigadosA Corregedoria da Câmara já investiga o deputado Rubens Otoni por ligações com cachoeira. O parlamentar apresentou a sua defesa na última terça-feira (3). Na semana passada, o Psol pediu a investigação dos deputados Carlos Alberto Leréia e Sandes Júnior, mas o pedido ainda não chegou à Corregedoria.
Operação Monte CarloA Operação Monte Carlo foi deflagrada pela Polícia Federal no fim de fevereiro, para desbaratar um esquema ilegal de jogos de azar, que seria comandado por Carlinhos Cachoeira. O empresário está preso em um presídio federal em Mossoró (RN).
Escutas da operação divulgadas pela imprensa revelaram conversas suspeitas entre o senador Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira. As investigações da Polícia Federal também apontaram a existência de relações próximas entre Cachoeira e deputados federais.